Nos últimos anos é cada vez maior o número de livros publicados que se originaram a partir de uma fanfic, ou de autores aclamados que iniciaram a carreira escrevendo uma. O tão comentado 50 Tons de Cinza começou como uma fanfic de Crepúsculo, ao mesmo tempo em que Rainbow Rowell já escrevia histórias com os personagens de Harry Potter bem antes de fazer sucesso com Eleanor & Park.
Se alguém ainda não sabe o que afinal é uma fanfic, eu explico: o temo vem de fanfiction, ficção de fã, ou seja, uma história escrita de fã para fã. Uma fanfic pode ser feita usando como base um livro, um anime, um seriado ou, até mesmo, membros de alguma banda. Basicamente, é quando você usa personagens que já existem para criar uma nova história, de forma que ultrapasse os limites da simples intertextualidade. Com o avanço da internet e a facilidade cada vez maior de compartilhar informações, este tipo de publicação têm aumentado consideravelmente.
Mas o ponto que eu gostaria de abordar não é o sucesso das fanfics ou os motivos por trás de sua expansão, e sim o que diferencia uma fanfic de um livro. Em uma primeira reflexão você deve imaginar: "oras, se é escrito por um fã de determinada coisa, tendo como público alvo pessoas que também são fãs dessa coisa, então quem não for fã não vai entender a história". Inicialmente, sim, funcionava dessa forma. Entretanto, existe uma infinidade de fanfics que usam personagens já existentes sem, todavia, aproveitar o universo do qual eles foram retirados. Imagine, por exemplo, uma fanfic de Crepúsculo na qual não haja nenhum vampiro. Nesse caso, qual a diferença?
Se o ambiente no qual o personagem estava originalmente inserido não é reaproveitado, ele perde seu passado e suas ligações ao enredo. O que sobra, além de seu nome? Sua aparência e personalidade. Mas, se o enredo da história é completamente recriado, não é apenas natural que a personalidade dos personagens sofra alterações? Algumas vezes, essas mudanças são leves, apenas para adequar o personagem à sua atual realidade; em outras, acabam sendo mais acentuadas. Nesse caso, onde fica a diferença?
Para analisar melhor a situação, usarei de exemplo o site Nyah! Fanficion, que gerou certa polêmica ao excluir a categoria bandas/personalidades de suas opções. Um dos maiores argumentos do site, na época, foi que as pessoas podiam simplesmente trocar o nome dos personagens e republicar suas histórias na categoria de originais. Foi dito, também, que isso seria bom para o amadurecimento dos autores. Obviamente, eles consideraram que todas as fanfics daquela categoria eram de universo alternativo (o que não é o caso) e ainda deixaram subentendido que esse tipo de história não é fanfic de verdade. E então, eles tinham razão?
(Vou abrir um parenteses aqui para dizer que o site possuía outros motivos para excluir a categoria; entre eles, possíveis questões legais por uso não autorizado de imagem. Não quero levantar novamente a questão sobre o site estar correto ou não sobre a exclusão da categoria, apenas sobre a validez de alguns argumentos e as discussões que eles geraram.)
Vamos por partes. Primeiro, devemos reparar que a categoria de bandas/personalidades não era, de forma alguma, a única do site com histórias de universo alternativo; ainda que nela a quantidade fosse maior. Ao utilizar esse argumento, o mais lógico seria abolir o gênero realidade alternativa do site, em todas as categorias, o que não ocorreu; talvez porque o controle fosse muito complicado, talvez porque isso poderia gerar ainda mais controvérsia.
Então, vem a questão dos nomes. Como características físicas não recebem tanta ênfase em uma história escrita, o nome acaba sendo, muitas vezes, a única ligação entre os personagens de uma fanfic e a história na qual ela se baseou. Pensando de forma simples e linear, a renomeação dos personagens deveria transformar uma fanfic em livro. Mas isso realmente funciona? Recentemente eu publiquei aqui minha resenha do livro Sábado à Noite, que fez um enorme sucesso como fanfic da banda britânica McFly, mas acabou se mostrando bem fraquinho como livro (na minha opinião, claro).
Se você gosta muito de um personagem, seja ele ficcional ou não, vai gostar de vê-lo em uma situação que, se não fosse pelas fanfics, não seria capaz de ver. Mesmo se o nome da pessoa for a única coisa que te faça enxergar aquele personagem ali, não importa, porque é ele quem você vê e é ele quem te faz se apaixonar pela narração. É por isso que histórias como Sábado à Noite não são tão boas como livro quanto foram como fanfic e é por isso que aquele argumento do Nyah! foi ofensivo à muitos leitores.
Por fim, tendo excluído tantos casos, chegamos à um último: e se, mesmo após a alteração dos nomes, a história continuar ótima? E se os personagens continuarem te cativando? E se o enredo continuar bem elaborado e envolvente? Então, finalmente, temos um livro.
Não estou dizendo que todos as autores que se encaixam neste quadro deveriam largar as fanfics e partir para histórias originais. Como eu falei acima, querer imaginar personagens que você gosta em outras situações é o sentimento que move todo este universo. No entanto, existem, sim, fanfics que dariam ótimos livros. Não há nenhuma que você gostaria de ver publicada?
12 comentários
Sempre ponderei nessa questão das fanfics que só mantem o nome, mas mudam a personalidade, o local, e tudo mais! Acho que as vezes a pessoa tem medo de escrever uma fanfic original. E realmente, fanfics originais não fazem tanto sucesso, no meu ver. Adorei o post! Beijos, Jú
ResponderExcluirdocurailusoria.blogspot.com
Pior que isso acontece mesmo, as pessoas pensam na história em geral e depois adequam aos personagens que forem trazer mais popularidade à fanfic. Acho que por isso grande parte das fanfics de universo alternativo não me agradam, fico com a sensação de que, se não fosse pelos personagens, não leria a história inteira. Mas, dependendo da plataforma escolhida para publicação, algumas histórias originais se destacam tanto quanto as fanfics! Uma das histórias mais lidas do Nyah! Fanfiction na época que eu frequentava era "Contos de Garotos", uma publicação original.
ExcluirOláa!!
ResponderExcluirEu gosto de ler fanfics, antes eu rejeitava mas agora nem tanto. Mesmo assim, eu prefiro histórias originais, mas gosto de quando o autor coloca um artista mas o muda completamente no quesito de personalidade.
Adorei o post!
Beijos,
http://our-constellations.blogspot.com/
Eu costumava ler muita – muita! – fanfic, mas hoje em dia só acompanho os autores que gosto mais. Comigo é justamente o contrário, não gosto quando muitas características do personagem são alteradas, haha.
ExcluirOi Elisa
ResponderExcluirVou ser bem sincero, nunca li fanfic. Tipo, pra sentar e ler, nunca. Eu cheguei a folhear uma de uma amiga, mas ler para acompanhar não. Acho que não faz muito meu estilo sabe. Eu li Sábado a Noite, da Babi Dewet, que nasceu de uma fanfic. O ponto principal pra mim num é nem vontade de ler, é ler pelo computador. Passo grande parte do meu tempo fora de casa, então livros físicos facilitam minha vida.
Abraços
David Andrade
http://www.olimpicoliterario.com/
Quando eu era menor também não gostava de ler pelo computador, então imprimia em papel de rascunho para ler na escola. Depois de um tempo, o vício passou a falar mais alto e comecei a ler pelo celular. Tem muita fanfic ruim por aí – afinal, qualquer um pode publicar na internet –, mas as que são boas... são boas de verdade. Quem sabe algum dia você não acabe se apaixonando por uma, haha.
ExcluirOi, Elisa. Tudo bem?
ResponderExcluirEu não curto muito ler fanfics, mas eu tenho uma amiga que escreve e ela sempre pede pra eu ler.
Mas é uma questão de gênero literário mesmo, rsrs
Bjo
mundoemcartas.blogspot.com.br
Sorte a sua que nunca chorou ao descobrir que sua autora favorita largou a história que você acompanhava com mais afinco, então.
ExcluirOi, tudo joia?
ResponderExcluirUma vez comecei a ler uma fanfic que uma conhecida estava escrevendo, não fiquei muito animada para ler, mas li para apoiar ela haha,
Beijos
intoxicadosporlivros.blogspot.com.br
Espero que o seu contato com fanfics não se limite para sempre à essa única, porque existem muitas realmente boas por aí!
ExcluirPosso colocar um enorme e gigante [2] em relação a todo o seu texto? Obrigada.
ResponderExcluirNão coloque um 2, responda a pergunta!
Excluir